A conquista da contra-hegemonia cultural protagonizada pelo neo-realismo fez-se por meio da imprensa cultural e da edição literária e ensaística. O livro é um instrumento-chave de intervenção que vai consolidar primeiro como reduto, depois como linha avançada a racionalidade intelectual antifascista. Ao procurar chegar e criar novos públicos (trabalhador, infanto-juvenil, sobretudo), o neo-realismo tem no horizonte o valor da democracia cultural que tornou actuantes projectos colectivos e interdisciplinares do ponto de vista artístico. Daí a importância das redes de sociabilidade, amizade e militância política, de estruturas editoriais e institucionais inicialmente bastante precárias que impulsionaram a centralidade neo-realista dentro do campo cultural português nos meados do século XX.
Carina Infante do Carmo é Professora Auxiliar da Universidade do Algarve e membro do Centro de Estudos Comparatistas (FLUL). Tem estudado autores portugueses novecentistas, o movimento neo-realista e a escrita autobiográfica. Entre as edições mais recentes destacam-se Neo-realismo e infância (2019), co-organizado com Violante F. Magalhães, e o catálogo Miúdos, a vida, às mãos cheias: a infância do neo-realismo português (também com Fátima Pires, 2017), na sequência da curadoria de uma exposição homónima no Museu do Neo-Realismo (2017-18). É ainda autora de A visagem do cronista: antologia de crónica autobiográfica portuguesa - séculos XIX-XXI (2 vols., 2018). Tem no prelo A noite inquieta: ensaios sobre literatura portuguesa, política e memória.
Coordenação: Daniel Melo e Patrícia Santos Hansen
Organização: Grupo de Investigação «Leitura e formas de escrita»
Parceria : Grupo de Investigação «Cultura, história e pensamento ibéricos e ibero-americanos»
